Peso Expandido (2)
Táticas móveis em arte contemporânea

Eunice Terres
Fernanda Ricci
Patricia Cipriano
Pedro Galiza
Marita Bullmann
Curadoria
Leo Bardo
Matheus Henrique

Articulação Crítica
Andreia Lais Cantelli

Fotos
Leo Bardo
15/12 - 21/12 2019

Desta imagem que possuo do futuro e vejo tremelicar entorpecida,
como uma ameaçadora bomba verde e elétrica.

Em sua palestra Precarious Life (Estocolmo, 2011) Butler empenha-se em elaborar um pensamento de uma nova ética, a qual ela chamará precariedade.
A apreensão do mundo segundo esta perspectiva manifesta-se como potência no intuito de avolumar uma existência que se faz precária, na qual estão submetidas nossas subjetividades. As subjetividades cuirs ou transviadas, como argumenta Berenice Bento. Além da força epistemológica da palavra em si e toda a cosmologia que envolve o cenário, muito cara à essa plataforma, a precariedade ganha força como debate filosófico. A autora identifica precariedade como “o estremecimento de tudo o que é vivo, o êxtase da pele que ferve como brasa perante o toque do outro”.

Peso Expandido nasce independente e auto-gerido. Rasuramos o fantasma do passado e escrevemos por cima dele. Na somatória entre o desenvolvimento do projeto até a realização das duas primeiras edições somos em 15 artistas envolvidos nesta plataforma - vindos dos mais diversos lugares do Brasil para avolumar as parcerias entre locais de criação emergentes como a Casa Selvática e o PF espaço de performance art.

A construção dessa plataforma enquanto mais uma experiência heterotópica propõe a partilha como atravessamento subversivo das narrativas de/em poder, prazer e controle, apresentando nesta edição os deslimites técnicos, representativos, geopolíticos e culturais das obras como um manifesto imagético entre história e ficção. O que temos, na realidade, são lugares de diferença com seus próprios discursos, ligados a heterotopias semelhantes entre si e inseridas na contemporaneidade como marcadores do anacronismo entre o passado, o presente e o futuro.

A pressão da sola da tua bota sob nossas cabeças,
O intuito é que seu escalpo vire minha toalha de banho, retiro de ti os ossos da cabeça, um a um. Junto deles sua capacidade de pensar com foco e precisão serão ofuscadas pela inserção de um nanochip chamado temor.

É a identificação dos modos da construção ficcional aos modos de uma leitura dos signos escritos na configuração de um lugar, um grupo, um muro, uma roupa, um rosto. É a assimilação das acelerações ou desacelerações da linguagem, de suas diferenças de potencial entre o insignificante e o supersignificante, às modalidades da viagem pela paisagem dos traços significativos dispostos na topografia dos espaços, na fisiologia dos círculos sociais, na expressão silenciosa dos corpos. A “ficcionalidade” própria da era estética se desdobra assim entre dois polos: entre a potência de significação inerente às coisas mudas e a potencialização dos discursos e dos níveis de significação. (1)

Nossos corpos políticos não são uma metáfora. Somos criações tangíveis, bunker, barricada, máquinas de guerrear. Geradoras de imagens com potências de futuro, sem tradução simultânea, em um mundo em que as pessoas majoritariamente não estão capazes de ler e/ou se relacionar dentro dos mecanismos de controle que regem as regras da diferença e, portanto, da convivência e da performatividade cotidiana de quem corta, desmancha e refaz estes cacos que chamamos de tempo de vida. Elektra, em seu enunciado, discursa diretamente da América Latina do ocidente. No século 21, onde o que realmente importa são os espaços - entendidos aqui como um posicionamento, um lugar de movimentação onde podemos jogar com nossas imagens poliglotas. Um jogo sem prestação de contas.

Leo Bardo e Matheus Henrique

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(1) RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política; tradução de Mônica Costa Netto. - São Paulo: EXO experimental org.; Ed.34, 2005. p. 55